Um convite à reflexão
18 de abril de 2023

Olá!
Gostaríamos de pensar, junto com vocês, sobre como expandir a leitura do problema instalado pelos atuais crimes cibernéticos, que se alastram e nos deixam com uma extrema sensação de desamparo. Assim, alargamos nossa perspectiva e podemos nos situar com maior segurança na consolidação de respostas à ameaça que nos atinge a todos: crianças e adolescentes, mães, pais, escolas, sociedade. Se não temos controle sobre o imponderável, podemos cuidar de nossos afetos e relações. Pensando nisso, achamos pertinente responder de imediato a alguns questionamentos que a Fundação Torino recebeu de algumas famílias.
- Como podemos promover a união entre as esferas: escola, alunos, pais e comunidade para criarmos novas configurações de alianças?
As relações sociais e econômicas hoje são marcadas pelo individualismo, competitividade e performatividade. Vivemos como se o melhor desempenho fosse o índice de melhor sujeito. Quando esse modelo econômico se repete na escola, ele inverte a escala de valores solidários, de respeito à diferença e de equidade. Projetamos no diferente, naquele que foge a esses padrões, o lugar de depósito de nosso mal-estar íntimo, de nossas dificuldades. Assim nos aliviamos, nos afastando dele e, muitas vezes, maltratando-o. Configurar novas alianças implica: primeiro, em entender o que nos ameaça na diferença; segundo, em tentar perceber como nos defendemos desses temores; terceiro, como usamos o outro nessa defesa. Depositar o problema no outro, nesse sentido, é afastar e aumentar o problema, não o resolver. Quando uma comunidade de interesses comuns, como a escola, sofre externamente uma ameaça, todos se tornam vítimas. Partir desse ponto, ajuda a entender que juntos seremos mais fortes. Reproduzir internamente o modelo da competição ou o da defesa, nos afasta e nos enfraquece. Por isso, a importância de nos aliarmos, ao invés de respondermos no imediatismo do medo.
- Hoje vivemos em uma época onde a mentira se torna verdade. Esse é o um dos maiores desafios relacionados à propagação de fake news. Como podemos construir uma relação de confiança e comunicação assertiva entre as esferas que envolvem as crianças e adolescentes para combater essas informações?
As notícias falsas sempre existiram, o grande problema hoje está na velocidade e na facilidade de sua disseminação. Com a internet, as fake news alcançaram uma capilaridade sem precedentes. Combater essa onda avassaladora de notícias falsas não é tarefa fácil, mas podemos proporcionar às crianças e jovens uma formação reflexiva sobre os problemas atuais, favorecendo a apropriação crítica do conhecimento, para que as plataformas digitais e as informações que veiculam nas redes sociais não exerçam tanta influência sobre eles, nem monopolizem a solução de problemas.
- O valor da amizade: o que é ser amigo em um mundo compartilhado? Como pais e escolas podem trabalhar os valores dessa relação no dia a dia das crianças e adolescentes?
Na base da sensação de segurança, está o tratamento do sentimento primário do medo. Ele é tanto mais mobilizado, quanto menos compreendemos ou conseguimos identificar a fonte do que nos ameaça. Assim o temor, gerador de angústia, pode provocar defesas individuais e coletivas, conscientes e inconscientes. Tendemos a nos aglutinar em pequenos grupos e nos distanciar de soluções mais estruturais nessa situação, especialmente quando a desconfiança emerge como afeto defensivo. Buscamos potenciais inimigos para localizar sobre ele nosso medo: buscamos culpados. Por isso, fortalecer o laço e a amizade como cuidado de si e do outro gera o efeito contrário e trata o desamparo a que as incertezas nos lançam. A amizade como fortalecimento do reconhecimento é uma política contra o medo. Na escola, ela pode ser introduzida através de estratégias pedagógicas nas atividades em sala de aula ou de discussão de vivências, por exemplo. Em casa, podemos escutar nossos filhos e filhas para tentarmos entender como, nós e eles, compreendemos a política da amizade.
- Precisamos ouvir os adolescentes, entender o que estão fantasiando, como estão vivendo e pensando essa nova configuração virtual e compartilhada. Como podemos fazer essa aproximação deles e gerar uma relação de abertura e confiança?
Os jovens encontram-se, muitas vezes, despreparados para lidar com os desafios que a cultura digital impõe, entre os quais estão a capacidade crítica de selecionar informações e de se orientar no ambiente on-line. É importante, portanto, abrir espaços de palavra aos jovens, para conhecer como eles estão vivendo e experenciando o ambiente virtual, os seus interesses, preferências, e também os impasses e desafios que vivenciam a partir das interações on-line. Ou seja, oferecer uma presença humana acolhedora, disposta a escutá-los, num mundo cada vez mais tecnológico, que tem conduzido os jovens a uma condição de dormência e passividade.
Vamos continuar essa conversa? Aguardamos todos vocês no dia 27/04, às 19h, no auditório da Escola. Até lá!
Andréa Guerra, Nádia Laguárdia de Lima e Carolina Gilberti